29 de jun. de 2012

Diário de Bordo #1

postado por Caleb Henrique




Olá, Viajantes!

Hoje é a estreia do Diário de Bordo que é nada mais, nada menos que um meio mais fácil de nos comunicarmos por aqui, em outras palavras, aqui postarei um pouco mais de mim, talvez alguns textos (como o de hoje, por exemplo) e espero que se sintam livres para comentar me contando sua opinião e um pouco mais sobre vocês - e, é claro, espero [de coração] que gostem. Como dito, hoje postarei um texto escrito recentemente e já vou pedindo perdão antecipadamente por qualquer [ou quaisquer] erro. E, Chris, obrigado pelas dicas.

Vamos lá:


BLAME IT ON THE RAIN



De minha janela posso observar as pessoas indo e vindo, apressadas, a maioria acompanhada pelo bom e fiel guarda-chuva, mas também há aqueles que se arriscam e saem desprotegidos, contando com a sorte. Um forte relâmpago clareia o céu. Um aviso rápido e silencioso. Antes que alguém pudesse se surpreender lá estava ela, imperatriz dos céus, a chuva. Os desprotegidos correm em busca de amparo – posso ver dois deles – enquanto os outros simplesmente resmungam e abrem seus guarda-chuvas. Aquela visão me surpreende e um flashback assalta meus pensamentos.

– Papai, veja só quantos cogumelos.
Ele sorri e balança a cabeça em negação. Mas logo entra no espírito da coisa.
– Verdade! Olha só quantos! Vamos conta-los? Eu fico com os vermelhos e os azuis. Você com os pretos e cinzas. Combinado? – Disse com um enorme sorriso jovial.
– Combinado! Mas vou logo avisando que você vai perder.  – e iniciou a contagem dos seus – Um, dois (...)


Demoro a perceber que estou de volta à janela, ainda surpreendido pela vivacidade da memória há muito esquecida. A rua está diferente agora que realmente paro para observar. Há poucas casas, a maioria foi substituída por edifícios e lojas. Mas ali estão as pessoas, indo e vindo com e sem seus cogumelos. Ora, cogumelos... quão fértil afinal pode ser a mente de uma criança? Devia ter seis (no máximo sete) anos naquela época e nada com que me preocupar, exceto, é claro, qual seria a brincadeira do dia. Afinal, podia ser o que quisesse e fazer o que me desse na telha. Explorar o mundo, saqueando navios e enterrando tesouros no melhor do estilo pirata, às vezes eu até optava pelo contrário e preferia fazer justiça salvando o mundo do perigo que eles ofereciam. Mesmo ingênuo tinha lá meus fictícios amores e o papai, é claro, meu fiel companheiro de aventuras. Mas isso foi há muito tempo atrás. Muito antes da estúpida briga, onde tomados pelo orgulho deixamos de nos falar. E agora aqui estou, vinte anos depois, observando as pessoas fugindo da chuva com o auxílio de seus guarda-chuvas e mais dois, um jovem e uma moça, tentando fazer o mesmo sob o toldo de uma boutique; observando enquanto espero o Dr. Julius sair do quarto de meu pai com um diagnóstico, para que talvez não seja tarde demais para pedir perdão e, com um pouco de sorte, recebe-lo.

A porta se abre e só então percebo que meu coração está mais apertado do que de costume. Fito o doutor e tento decifrar sua expressão impassível, extremamente profissional, em vão. Ouço minha própria voz, atrapalhada e em um tom mais assustado do que esperava, perguntar: – E então, doutor, ele ficará bem? – E pelo modo como ele me olha de volta posso perceber que eu provavelmente carrego uma expressão de pânico. – Bom, um infarto sempre é algo preocupante, mas seu pai é um guerreiro e ainda viverá muitos anos se tomar os cuidados necessários. – Senti algo quente cair no rosto, seriam lágrimas? Por Deus, eu estava realmente chorando em frente a um médico? Mas na verdade, pouco importa. Entrei no quarto e o visualizei ali, deitado na cama. E no instante em que nossos olhares se cruzaram, visualizei um brilho se acender nos olhos daquele homem, que me presenteou com um sorriso escancarado, como se os anos não tivessem passado, e uma vez mais estava diante do homem em que sempre me espelhei; que me ensinou e orientou a ser sempre uma boa pessoa, o homem com quem vergonhosamente discuti e de quem muitas vezes desdenhei, durante os famosos “anos rebeldes” pelos quais todo jovem em formação provavelmente já passou. E naquele momento eu quis correr, como quando criança, e abraça-lo o mais forte que pudesse, e por mais vergonhoso que me seja admitir isto agora, o fiz. E lá estava ele, de braços abertos, amparando minhas lágrimas quando eu quem deveria ser o amparador. Não houve pedido de desculpas, não era necessário, ambos sabíamos disso agora. E então o fitei, sorri e lhe disse: – Senti muito sua falta, meu pai – pronunciei essas duas palavras repleto de felicidade. Como havia sentido falta de pronunciá-las. A tristeza do tempo perdido estaria sempre em mim, mas agora também existiria a felicidade das possibilidades. A felicidade de poder vislumbrar seus olhos quando eu contasse que me casaria e que, em breve, ele teria um pequeno ser no colo para chamar de neto e mimá-lo como todo bom avô faz.

Enquanto tudo isso acontecia, a chuva seguia imperando lá fora. E aquele jovem casal, que nem ao menos se conhecia, descobria o amor. Ali mesmo, na chuva, totalmente inconscientes da alegria que emanava na casa em frente.

Caleb Henrique

Agora é a sua vez, como tem passado? O que está lendo?
Responderei todos os comentários.
E como há braços, abraços.