19 de jan. de 2015

A Máquina de Contar Histórias - Maurício Gomyde

postado por Caleb Henrique

Novo Conceito (Selo Novas Páginas), 2014, 192 páginas. (Skoob)
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Vinícius teve o mundo nas mãos, e agora, sozinho, precisa se reinventar para reconquistar o amor das filhas e seu espaço no coração da família V. Uma história emocionante, cheia de significados entrelaçados pela literatura, mostrando que o amor de um pai, por mais dura que seja a situação, nunca morre nem se perde.


Avaliação: 4/5


Algumas histórias são grandiosas justamente por sua simplicidade.
A Máquina de Contar Histórias é uma dessas.
Uma incrível, por sinal!


Para ser honesto, já perdi as contas da quantidade de vezes nas quais deparei-me com uma resenha positiva, e geralmente emocionada, de algum dos livros do Maurício Gomyde blogosfera afora, mas apesar da antiga e sempre crescente vontade de ler algum de seus livros, só o fiz recentemente e não poderia estar menos que maravilhado.

Lançado pelo selo Novas Páginas da Editora Novo Conceito — do qual, como apaixonado pela literatura brasileira que sou, sinto muito orgulho — A Máquina de Contar Histórias é um livro pelo qual é impossível não criar o mínimo de empatia que seja, uma vez que aborda um tema importantíssimo e não tão explanado anteriormente: família.

Vinícius Becker é o melhor escritor da atualidade e possui tudo que qualquer escritor ou aspirante deseja: seus livros figurando as listas de mais vendidos de todo o mundo e, é claro, uma legião de fãs assíduos e apaixonados por cada um deles. Tendo isso em mente, pergunto: será que ser bem-sucedido no trabalho é o bastante para ser feliz? Esse é, talvez, o maior dentre todos os questionamentos que a obra nos passa.

Uma “máquina de contar histórias” (...) Frio, certeiro, veloz. Emoções transcritas no papel de forma científica, como se amor, ódio, pena e saudade fossem tópicos de um fichário que ele abria, selecionava e inseria com precisão nas entranhas do texto. (pág. 14)

De escrita gostosa e fácil o livro nos leva a embarcar numa viagem em busca não apenas da essência das personagens, mas também de nossa própria. E falando de personagens, esse é outro aspecto muito bem desenvolvido: todas elas possuem características próprias e marcantes que, naturalmente, nos afeiçoam. A Valentina, por exemplo, é uma personagem que levarei comigo para sempre, uma vez que compartilhamos muitos amores em comum — um deles, a escrita (e London!). A pequena Vida não fica atrás e representa de forma maravilhosa a inocência e a facilidade de perdoar tão naturais as crianças. A Viviana, sua esposa, é um exemplo de amor e devoção. Juntos eles formam uma família perfeita. Na verdade, formariam, já que sua escrita, eventos e obrigações consomem a maior parte da vida do grande Vinícius Becker de modo que, gradativamente, ele foi se afastando mais e mais de sua esposa — portadora de uma condição rara — e filhas, até que a vida cobra o preço e lhe esbofeteia de forma certeira com a perda de sua esposa, da qual ele sequer teve tempo de se despedir. Seria possível, afinal, restabelecer seu lugar no coração da família depois de tamanha falta? Vinícius está disposto a reconquistar o amor e o respeito de suas garotas e, numa tentativa desesperada, consegue fazer com que elas aceitem fazer uma viagem de quatro dias com ele. Será que é possível reverter tamanha chaga de seus corações? Eis o plot de nossa obra.

Durante aqueles quatro dias, ele reviveria e reinventaria Viviana em seu coração. Pelo jeito de caminhar, de falar ou sorrir das meninas. Trejeitos sutis de cada uma das como se miniVivianas fossem, capazes de subverter qualquer bloqueio da memória e de trazer à tona um jantar romântico, palavras de carinho ditas com uma voz doce, o sabor de beijos ainda guardado na boca. Desta vez ele decidiu não ignorar os detalhes, para que o tempo não tornasse aqueles quatro dias algo a ser esquecido, no futuro, em um lugar escuro da mente. (pág. 135)

Visualmente falando, o livro é de uma beleza rara, uma vez que além da capa linda a diagramação também não deixa a desejar. Tenho tido muitas surpresas positivas da editora nesse quesito, o que, definitivamente, é louvável. Outro aspecto que acho válido ressaltar é o fato de o livro ser, indiretamente, repleto de dicas para aspirantes a escritores. Eu, particularmente, anotei uma porção delas, como por exemplo:

Encontre seu estilo, faça dele sua religião. Encontre seu público-alvo, faça dele seu rebanho. Encontre um lugar para escrever, faça dele seu santuário. Encontre um horário para escrever, faça nele sua prece. Escreva qualquer coisa, mesmo que não signifique nada. Se a inspiração para algo novo falhar, pesquise, leia, defina, conserte, rearranje, corte. Trace uma meta de palavras por dia. Transforme-se numa máquina de escrever. (pág. 53)

Por fim, me resta dizer que será difícil achar um livro com o qual me identifique tanto em algumas questões, ou que tenha me ensinado tanto sobre as consequências que minhas ausências podem vir a ter. Aprendi com o Vinícius que nunca é tarde demais para recomeçar, enquanto a Valentina me ensinava sobre amor verdadeiro por sua escrita. Aprendi mais, muito mais, mas por ora me resta apenas dizer: leia!

Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.