27 de jan. de 2015

Cartas de Amor Aos Mortos - Ava Dellaira

postado por Caleb Henrique

Companhia das Letras (Selo Seguinte), 2014, 344 páginas. (Skoob)
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Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado.


Avaliação: 5/5 + FAV.


Essa resenha é um pouco diferente do habitual, pois a escrevi em forma de carta
- e a primeira vez que falo sobre alguém muito especial -
então, não peço perdão, mas que a leia, pois ela tinha de ser assim.

  

Querida Eni,

Recentemente li um livro chamado Cartas de Amor aos Mortos, da Ava Dellaira e não consegui deixar de pensar que, muito provavelmente, ele também viria a chamar sua atenção  te instigar.

O livro foi lançado no Brasil pelo selo Seguinte da Companhia das Letras e através de cartas inusitadas — como esta que agora lhe escrevo — conta a história de Laurel, uma jovem aluna mediana que, aparentemente, carrega um peso imenso no peito. A proposta das cartas surgiu na aula de inglês e foi a primeira tarefa do ano letivo: escrever uma carta para uma pessoa que já morreu. Laurel escolheu o Kurt Cobain, que era o músico favorito de sua irmã May, mas ao invés de entregar, ela guardou e passou a escrever mais delas — inclusive para outros artistas — como uma forma de desabafo, afinal: ela precisava de alguém com quem conversar e, consequentemente, contar sua história.


Sei que esse não foi o primeiro livro inteiramente escrito por meio de cartas, mas foi um dos que, ao meu ver, melhor abordaram a temática ‘morte’ e todas as suas complexidades e consequências. As cartas são indiscutivelmente bem escritas, uma vez que o livro é apadrinhado por Stephen Chbosky, autor do best-seller que recentemente virou filme: As Vantagens de Ser Invisível, de modo que não tinha como dar errado — o que não torna menos incrível o fato de ser o livro de estreia da Ava.

Acontece que, apesar de abordar um tema um tanto mórbido e comumente considerado forte, Cartas de Amor Aos Mortos é um livro de leitura fácil e pode facilmente ser lido em poucas horas. Eu, particularmente, tentei adiar um pouco o fim — protelei, pois não quis dar adeus a Laurel, sabe? Me apeguei as personagens e sua humanidade visível e é difícil imaginá-los como ‘simples personagens de livros’, pois isso não os torna menos reais. Mas, é claro, cheguei ao desfecho e só consegui me perguntar: o que você acharia? Tenho certeza que ia amar, afinal, como não amar um livro onde a personagem, na maioria das vezes, parece falar com você? Um livro tão humano que em certos momentos me levou às lagrimas? — engraçado como eu sempre choro com dramas, já percebeu? Acho que sim.

O tempo passou tão rápido, mas ainda é difícil falar de você sem sentir sua falta, Eni. É difícil clicar no botão "publicar" e saber que nessa postagem não haverá um comentário iniciado com “Caleb querido” ou que o Dose Literária não vai mais ter mais nenhuma de suas incríveis indicações, mas nada se compara a felicidade de ter te conhecido e, indiferente a distância ou quantidade de conversas, a certeza de que nossa amizade nunca foi unilateral. Por fim, separei — é claro — uma citação para te mostrar:

Talvez ao contar as histórias, por pior que sejam, não deixemos de pertencer a elas. Elas se tornam nossas. E talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você pode ser a autora. (pág. 312)

Você foi autora da sua — em todos os aspectos — e plantou sementes nos corações de muito mais gente do que imagina. Sementes que brotaram, cresceram e seguem sendo regadas. Por muito e muito tempo.

E como há braços, (todos os meus) abraços.
Para sempre grato por te conhecer,