O escrito de hoje é de cunho bem pessoal, mas gostaria de compartilhar com você.
BLACKBIRD
Eu tenho medo.
Quantas
vezes já disse isso em voz alta? Reviro a memória e não consigo lembrar de
nenhuma ocasião, nem mesmo na infância. Um sussurro ou um meneio em resposta,
talvez. Nada mais que isso. Não que eu não os tivesse, é claro. Já tive e ainda
tenho meus medos. Muitos bobos, outros inquestionáveis. Todos reais.
Talvez
você queira me perguntar quais são e se há um porquê, talvez não. Respondo de
qualquer forma: tenho medo de hospital e de morrer afogado. Medo de não ser bom
o suficiente. De decepcionar mais e mais quem acredita em mim — e também a mim
mesmo. Tenho medo de virar um estranho para alguém que sempre vai ser
importante para mim e das voltas que a vida dá. Tenho medo do novo e esse
último, às vezes, até é gostoso de sentir, sabe? Um formigamento no estômago e
o cuidado de fazer com que dê certo. Novo emprego, nova casa, novos amigos ou
amores, não importa; o desconhecido sempre vai me assustar ao mesmo tempo em
que instigar. Mas todo mundo — eu, você, qualquer um — tem algum medo que tem
medo até de revelar. O maior de todos os medos. Só de pensar já sinto um aperto
no peito e uma gota de suor frio começa a brotar. Tenho medo da impotência.
Pronto. Falei. Assim. Sem preparação. Tenho medo de viver situações em que não
haja nada que eu possa fazer para ajudar e só de pensar já sufoco um pouco e
rogo um “que deus me livre”, mas me
responda: o que se faz quando não há nada que possa ser feito? Nada que vá
realmente adiantar. Claro, às vezes há meios de contornar — distrações, mas o
problema segue à espreita e ainda assim não haverá nada a ser feito.
Aterrorizante, não é? Eu também acho.
Também
tenho medo de voar, mas esse é também um dos meus maiores anseios. Desraigar,
abrir as asas e alçar voo. Voar para longe e descobrir que valeu a pena me
soltar de tudo o que me prendia ao solo. Voar atrás dos meus objetivos e
planos, cada vez mais alto, mas nem sempre para longe, porque passarinhos
também voltam ao ninho. Mesmo que brevemente. É nisso que eu penso nas manhãs em
que acordo e sinto que tudo parece meio confuso ou muito perdido: em ser mais
que um pássaro livre que tem medo de voar.
♪ “Blackbird singing in
the dead of night, take these broken wings and learn to fly.
All
your life, you were only waiting for this moment to arise.” ♪
Eu
tenho medos. Você também.
Quais são os seus?
Quais são os seus?
Caleb Henrique
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.